DTH e OTT: Por que não os dois?
Jurandir Pitsch, VP de Vendas para América Latina e Caribe da SES, escreve com exclusividade para o Top C-Level 

O mercado de vídeo está em constante mudança, com algumas tecnologias conseguindo avançar mais do que outras. A boa notícia para o setor é que o consumo total de vídeo pelas famílias continua aumentando. O apetite por novos conteúdos está cada vez maior e, graças às novas tecnologias, hoje podemos ter acesso a séries e conteúdos produzidos no mundo todo.

Um segmento no qual as operadoras de satélite têm especial atenção é o mercado de serviços DTH.  O número de assinantes vem caindo, especialmente em mercados mais maduros, como os Estados Unidos, à medida que novas tecnologias, como OTT, continuam a crescer. Nos mercados emergentes, como o Brasil, temos uma tendência similar, mas ainda não dá para ter certeza se a queda se deve a fatores econômicos, com a redução do poder aquisitivo da classe média, ou se também reflete uma tendência mais geral.  Vamos analisar com um pouco mais de detalhes estas duas tecnologias.

Na tecnologia DTH, os usuários recebem os conteúdos usando uma pequena antena parabólica, apontada para um satélite. Em alguns mercados, centenas de canais estão disponíveis e, normalmente, as operadoras oferecem diferentes pacotes para procurar atender a diferentes demandas e poder aquisitivo dos clientes. A tecnologia DTH apresenta uma série de vantagens.

Vantagens DTH

1) O alcance geográfico do satélite é imbatível. Dentro de um país, em qualquer região, independente se o cliente possua ou não internet, ele pode receber televisão em alta definição, com grande variedade de canais. Nenhuma outra tecnologia possui este alcance.

2) O custo independe da localização, ou seja, tanto faz o cliente estar no meio da floresta amazônica ou em uma região metropolitana, o custo para os broadcasters e agregadores transmitirem este  conteúdo é o mesmo.

3) O custo de transmissão não depende do número de usuários e nem do tempo que o usuário passa consumindo o conteúdo. Assim, embora o custo inicial possa parecer alto, à medida que o número de assinantes cresce, o custo por assinante reduz. Isto é diferente de outras tecnologias, como OTT, como comentaremos mais à frente.

4) A qualidade do vídeo é sempre a mesma e a tecnologia permite canais HD e canais 4K em qualquer lugar, bastando ter um set top box compatível. Não existe perigo de perda de qualidade por congestionamento da rede de acesso, mesmo durante eventos massivos, como uma final de campeonato ou copa do mundo.

Apesar de todas estas vantagens, o mercado vem perdendo espaço para novas tecnologias como OTT nos últimos anos e uma nova geração (dos millenials) têm cada vez mais optado por receber vídeos via Internet. Obviamente, esta tecnologia possui também muitas vantagens.

Vantagens OTT

1) As plataformas investem em conteúdos exclusivos, que ficam disponíveis sob demanda.

2) Possibilidade de assistir aos conteúdos em múltiplas plataformas, em qualquer lugar (inclusive em movimento, utilizando dispositivos móveis) e em qualquer hora. Isto é ideal para entretenimento, porque o usuário tem oportunidade de ter uma experiência mais íntima, assistindo em seu dispositivo quando estiver disposto a consumir aquele conteúdo.

3) Não há necessidade de caixas ou set top boxes para a recepção do conteúdo. Esta vantagem é relativa, porque nem todas as TVs são smart TV e, mesmo que sejam, nem todos os OTT possuem aplicativos que funcionam nestas TVs. Muitas vezes, é necessário ter um dispositivo para conectar à TV para poder consumir na tela grande. A vantagem é que estes dispositivos normalmente são relativamente baratos e o broadcaster ou dono da plataforma não precisa comprá-los e distribuí-los. Eles são responsabilidade do consumidor.

Por sua vez, a tecnologia possui algumas limitações. O mais importante é que não está disponível em todo lugar. Em países emergentes, a Internet banda larga, de boa qualidade, não está disponível em toda a parte. Para os broadcasters, o custo vai aumentando à medida que o conteúdo vai sendo consumido, porque o custo de CDN sobe linearmente com o número de usuários e com o tempo que este usuário consome. Isto pode se tornar um problema, considerando que a maioria das plataformas cobra um valor fixo mensal no modelo SVOD. Se o usuário consome muito, o custo pode ultrapassar o valor cobrado deste usuário.

Finalmente é preciso lembrar que as plataformas OTT não garantem a entrega dos seus produtos, porque não controlam a rede de distribuição (a Internet). Se houver uma demanda alta, o sinal pode falhar ou degradar significativamente e não há como reclamar, porque elas não têm qualquer gerência sobre a qualidade da transmissão. Outro ponto a ser considerado é que se o consumidor começar a assinar múltiplas plataformas para ter acesso a conteúdo diverso, o custo sobe rapidamente, podendo ultrapassar o preço que o usuário tinha no sistema tradicional de TV por assinatura.

Mas será que o usuário precisa escolher entre um ou outro? E se existisse um sistema que fosse híbrido e pudesse aproveitar o melhor dos dois mundos?

Acreditamos que sistemas híbridos possam ser o futuro da indústria. Este sistema permitiria que o usuário recebesse diretamente do satélite conteúdos esportivos, notícias e conteúdo ao vivo, ao mesmo tempo que conteúdos de entretenimento possam ser consumidos a qualquer momento, usando a internet. O importante, para o usuário, é que seja o mais transparente possível. Ele não precisa nem saber se está recebendo pelo satélite ou pela internet. O sistema teria uma interface única, intuitiva e agradável, em que se possa escolher os canais lineares e os conteúdos VOD e o sistema busca onde for mais conveniente.

Um sistema deste tipo, possuiria uma interface moderna, algo imprescindível hoje para os consumidores mais jovens. Além disso, permitiria medir o consumo e o interesse do usuário, fornecendo para os broadcasters e os agregadores, um grande número de informações estatísticas de grande valor para aumentar a monetização das plataformas. Uma plataforma híbrida, graças ao retorno de sinal, permite a inserção de publicidade mais direcionada, mesmo nos canais lineares tradicionais. Além disso, permitiria a customização de grade (clientes interessados em ter canais de nicho, poderiam colocar em seus preferidos no pacote, que seriam enviados via internet). O sistema permite até a criação de canais lineares para um conjunto específico de assinantes, usando playout na nuvem para a geração destes canais, a um custo bastante baixo.

Leia mais: Playout e gerenciamento de conteúdo com qualidade profissional usando a nuvem

Uma evolução adicional seria o uso de aparelhos de televisão com receptores (sintonizadores) de satélite embutidos, algo que está se popularizando na Europa e na África. Isto permite a colocação do software diretamente na TV. Esta TV teria um cabo que iria para a antena de satélite e um cabo (ou wi-fi) para a Internet e estaria completamente conectada para a recepção transparente dos dois sistemas integrados.

Todas estas tecnologias já existem e podem ser empacotadas em uma oferta única e muito atraente para as operadoras de plataforma. A operadora SES vem trabalhando nestas soluções, já há bastante tempo, usando sua experiência também em plataformas B2C na Europa e acreditando que o satélite continua a ser um meio muito relevante para a distribuição ponto – multiponto, especialmente em regiões emergentes. Ao usuário, não importa a tecnologia de transporte. Ele só quer um sistema inteligente, que lhe dê acesso ao conteúdo de forma cômoda e flexível   e que tenha um custo justo e acessível.

Por Jurandir Pitsch
VP de Vendas para América Latina e Caribe da SES

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