FAST: saiba tudo sobre o modelo de streaming baseado em anúncios 
No Brasil, churn de aproximadamente 20% impulsiona interesse por modalidade, que cresce e se consolida entre grandes players nos Estados Unidos

Por Redação Top C-Level 

Em entrevista exclusiva à Revista Top C-Level, Yassue Inoki, Managing Director da Penthera, explica o que são, fala sobre a origem e comenta a respeito da evolução dos canais “FAST” – do inglês, “Free Ad-Supported Streaming TV”-, canais de TV via streaming suportados por anúncios. 

A executiva afirma que “há um público bastante grande de pessoas que querem assistir TV de graça e aceitar ver os anúncios de publicidade ao invés de pagar por uma assinatura”. 

O fenômeno dos FAST começou nos Estados Unidos, quando algumas empresas perceberam que possuíam diversos conteúdos de acervo sem uso, os quais poderiam ser empacotados juntos, formando um canal de streaming de vídeo. Não demorou muito e grandes empresas de mídia norte-americanas compraram FASTs. 

“A Fox comprou a Tubi, a Paramount comprou a Pluto e a Comcast comprou a Xumo. Essas grandes empresas aprenderam que o FAST é uma ótima maneira de alcançar o público e, até mesmo, de promover seu conteúdo premium.” 

Existem, hoje, mais de 1400 canais FAST nos Estados Unidos, e grandes players como Netflix e Disney+ também dão os seus primeiros passos no modelo, ainda que com a perspectiva de, a princípio, oferecerem menos anúncios do que seus concorrentes. 

No Brasil, “estamos no início de todo o processo de estudos e descobertas. Algumas plataformas já saíram na frente com suas ofertas FAST, mas ainda veremos muitos novos lançamentos pela frente”, afirma Yassue.

Yassue Inoki, Managing Director da Penthera
Confira a seguir a entrevista completa com Yassue Inoki: 

Top C-Level – Poderia nos explicar sobre a definição de canais FAST e como surgiram? 

Yassue – FAST significa “Free Ad-Supported Streaming TV” – que, em Português, seria “TV via streaming suportada por anúncios gratuitos”. Em outras palavras, são canais lineares completamente gratuitos para o espectador, em que, ao invés de pagar por uma assinatura mensal, em troca, você precisa assistir a anúncios durante a programação. Isto é, a plataforma tem a receita do serviço proveniente exclusivamente da publicidade. Na essência, um canal FAST se assemelha a um canal tradicional com sinal aberto, onde não pagamos por uma assinatura, porém, precisamos assistir aos comerciais. Claro que a forma como os comerciais são inseridos no canal pode diferir um pouco do modelo ao qual estamos acostumados, mas, a essência é a mesma. Os serviços surgiram quando algumas empresas perceberam que possuíam vários conteúdos de acervo disponíveis e não estavam sendo utilizados, os quais poderiam ser empacotados juntos, formando um canal de streaming de vídeo. Empresas como Pluto TV, Tubi e outras originaram esse modelos de negócios. O que eles aprenderam foi que há um público bastante grande de pessoas que querem assistir TV de graça e aceita ver os anúncios de publicidade ao invés de pagar por uma assinatura. Além disso, os canais lineares são uma ótima maneira de atrair clientes, porque, ao invés de pesquisar conteúdo sob demanda, você pode sintonizar e ver um canal inteiro com conteúdos que sejam interessantes para você. Não demorou para que esse método de visualização permitisse que os espectadores deixassem os canais tradicionais em segundo plano e gerassem muitas oportunidades de publicidade. 

Top C-Level – Como está a evolução dos canais FAST nos Estados Unidos? 

Yassue – A evolução tem sido muito interessante. Primeiro, as grandes empresas de mídia compraram FASTs. A Fox comprou a Tubi, a Paramount comprou a Pluto e a Comcast comprou a Xumo. Essas grandes empresas aprenderam que o FAST é uma ótima maneira de alcançar um público e, até mesmo, de promover seu conteúdo premium. Por exemplo, se uma nova temporada de um programa estiver disponível, talvez eles ofereçam o primeiro episódio sob demanda em um FAST, para atrair a atenção do público, despertar a curiosidade e, assim, vender mais assinaturas. É relativamente barato iniciar um canal linear temporariamente para promover um conteúdo sazonal ou novo e depois desligá-lo novamente. Além disso, muitos dos serviços FAST que oferecem canais lineares estão percebendo que também precisam de uma biblioteca sob demanda robusta. Linear é uma ótima maneira de descobrir conteúdo, mas, se um espectador se apaixonar por um programa, ele desejará assistir ao programa sob demanda. Na hora que quiser. Existem, hoje, mais de 1400 canais FAST nos Estados Unidos, considerando as maiores plataformas deste tipo de canal, como Pluto, Roku TV, Tubi. Então, posso dizer que, nos EUA, o conceito continua em evolução. Os canais FAST continuam atraindo mais fãs a cada dia, a audiência e o engajamento dos FAST estão crescendo exponencialmente. 

Top C-Level – No Brasil, os canais fast estão ainda em uma fase inicial, correto? Qual a sua opinião sobre a evolução do modelo no país? 

Yassue – Acredito que o modelo de FAST channels veio para ficar, seguindo o movimento que aconteceu e ainda está em crescimento nos Estados Unidos. Aqui, no Brasil, estamos no início de todo o processo de estudos e descobertas. Algumas plataformas já saíram na frente com suas ofertas FAST, mas ainda veremos muitos novos lançamentos pela frente. Estamos num cenário pós-pandêmico, onde o consumo de vídeos aumentou consideravelmente, e, todos os meses, surgem algumas novas plataformas. Segundo estudo de pesquisa da Business Bureau, a quantidade média de plataformas que um usuário assina é três. O que significa que, em média, o usuário brasileiro assina três plataformas de streaming simultaneamente. Note que, apesar de termos muitas plataformas com bons conteúdos, o usuário não assina todas as plataformas atraentes a ele ao mesmo tempo. Ele assina o que mais lhe interessa. Quando uma outra plataforma inicia um programa que ele quer ver, ele cancela a assinatura e assina um outro serviço. O churn que temos nas plataformas, margeando os 20%, demonstra o que estou falando. Tudo isso aquece ainda mais o mercado e o interesse pelo modelo FAST. As plataformas precisam monetizar de alguma forma, e, se a base de assinantes não evolui satisfatoriamente, por consequência, ela experimenta um modelo de receita por publicidade, ou, ao menos, híbrido. 

Top C-Level – Sobre monetização, qual sua visão sobre AVOD nos EUA e no Brasil? 

Yassue – Bem, existem duas grandes tendências. Primeiro, estão os grandes SVODs, como Netflix e Disney, que procuram criar camadas híbridas como seus concorrentes. Híbrido significa que os clientes pagam uma taxa de assinatura e também veem anúncios. Obviamente, a taxa de assinatura é menor do que o que um espectador pagaria se não visse os anúncios.  Empresas como a Discovery disseram que ganham mais dinheiro por assinante em sua camada híbrida do que na camada de assinatura completa. A segunda tendência é apenas o crescimento do uso de AVOD, que é grátis e também suportada pela receita publicitária. Isso está gerando uma audiência significativa e apresenta um potencial significativo de receita e crescimento de inscritos. À medida que as famílias atingem o limite do número de assinaturas pelas quais estão dispostas a pagar, ter uma oferta gratuita (suportada por anúncios) permite que os editores alcancem esses consumidores e os consumidores descubram as ofertas de conteúdo desses editores. 

Top C-Level – Qual é o engajamento do consumidor dos canais FAST nos EUA? 

Yassue – Atualmente, há muita atenção nos canais FAST nos EUA, como Pluto, Tubi e Xumo. Eles impulsionam a visualização de VOD e fornecem aos editores, operadores de plataforma e fabricantes de TV, que estão lançando mais canais próprios, uma visão de qual conteúdo as pessoas gravitam. Há pouco, eu li uma matéria e concordei quando dizia que “FASTs Are The New Cable” (“os FAST channels são a nova TV a Cabo”), a qual destacou como os editores FAST estão procurando adicionar direitos de VOD para manter os espectadores. Além disso, você também vê SVODs lançando modelos híbridos (HBO, Hulu, etc.). Tudo isso aponta para o fato de que o VOD continuará sendo um componente crítico do cenário, pois oferece níveis crescentes de espectadores altamente engajados que consomem muito conteúdo. 

Top C-Level – Qual o impacto dos canais FAST para as TVs Abertas? Qual é a perspectiva de engajamento no Brasil? E, em sua opinião, qual é a tendência na distribuição do investimento dos anunciantes se compararmos o FAST e a publicidade na TV Aberta? 

Yassue – Minha opinião é que temos aqui uma situação cultural, onde o brasileiro foi acostumado a chegar do trabalho, jantar, ver o noticiário e, em seguida, uma telenovela junto com a família. Nas casas tradicionais, este modelo ainda existe, e acredito que não haverá uma virada de chave para canais FAST. Com o passar do tempo, não tenho dúvidas de que parte da receita publicitária continuará migrando e balanceando no streaming. O processo pode ser lento, mas é inevitável.

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