OTT e fluxos de trabalho em nuvem se consolidam em meio à pandemia e à busca por economia, eficiência, flexibilidade e escalabilidade; momento é de transição, mas conectividade ainda é fator limitante para produção ao vivo na cloud
Por Gabriel Cortez,
Jornalista do conselho editorial do Top C-Level
A produção ao vivo é cada dia mais requisitada e presente nas empresas de mídia em todo o mundo, assim como a busca por conteúdos e soluções Over-The-Top e a necessidade de fluxos de trabalho remotos e baseados em nuvem, as quais se intensificaram em um cenário de pandemia e da iminente implementação das redes 5G.
O painel “Produção ao vivo e na nuvem” repercutiu essas transformações, no primeiro dia da edição especial do Top C-Level Talks, promovido pelo grupo Top C-Level em 27, 28 e 29 de outubro. Raimundo Lima, CEO da Produpix e membro do Conselho Consultivo do grupo Top C-Level, moderou a sessão, que contou com as participações de Larissa Goerner (Grass Valley), Daniel McDonald (Sony), Fábio Eitelberg (2LIVE) e Jorge Dighero (Grass Valley).
Lima introduziu as apresentações lembrando que a pandemia acelerou muitas inovações que estavam incubadas e vinham sendo projetadas pela indústria. O avanço do OTT nos Estados Unidos foi significativo nos últimos dois anos, segundo ele. “Em 2019, 45 milhões de lares possuíam algum serviço de OTT contratado. Em 2020, em abril, esse número subiu para 69.8 milhões. A previsão é de que até 2024 a receita do mercado de vídeo OTT possa ultrapassar os U$ 200 milhões, entre assinaturas e publicidade. É um processo que está acelerado”, frisou.
Momento é de transição, mas conectividade ainda é fator limitante
Na opinião de Larissa Goerner, Diretora de Advanced Live Solution da Grass Valley, o mercado de mídia passou – e segue passando – por um de seus maiores e mais intensos períodos de ruptura.
“Neste cenário realmente dinâmico, precisávamos ajudar a manter nossos clientes no ar. Todo mundo estava trabalhando de casa, à distância, não dava para viajar. A necessidade de trabalhar em equipes globalmente distribuídas e também produzir era naturalmente o objetivo. Então, as empresas começaram a colocar os workflows na nuvem, ampliando-os e definindo novos tipos de fluxos, tendo um aproveitamento melhor de seus recursos.”
“O mercado passa por uma jornada de transição”, complementou a executiva da Grass Valey. “Queremos ajudar a tornar essa transição realmente suave, contribuindo para os diferentes modelos de negócios e workflows possíveis e ajudando as pessoas que estão trabalhando de casa. A migração para a nuvem é a nossa estratégia de longo prazo”, acrescentou.

Os desafios para a implantação dos fluxos de trabalho remotos e baseados em nuvem, contudo, ainda são significativos, na visão da executiva, sobretudo em coberturas ao vivo de eventos de grande porte, como um Super Bowl ou uma Copa do Mundo. “Hoje estamos falando sobre 20, 40 feeds, potencialmente, para uma produção com alta qualidade, alta eficiência e baixa latência. As soluções em nuvem, porém, oferecem uma maneira muito mais rápida de atuar em campo, em um contexto em que nem todos ainda podem viajar pelo mundo”, destacou.
“Soluções que permitem aos produtores ficar em casa e acompanhar todos os sinais que estão sendo gerados em determinado evento, como uma prova de moto GP ou um jogo de futebol, foram muito úteis no cenário de pandemia e seguem sendo utilizadas. Se você pensar em uma prova do Moto GP ou nos principais jogos de futebol, seria possível trabalhar com 20 ou 30 câmeras em um multiviewer, na latência mais baixa possível, podendo tomar as decisões falando diretamente com o diretor, que poderia estar do outro lado do mundo. Costumávamos ter desafios técnicos muito grandes no passado para que isso fosse possível, mas, agora, você tem um iPad e recebe o stream, suas credenciais de login e pode ver tudo o que o diretor e a equipe de produção também veem. A cloud e as soluções em nuvem têm um potencial de inovação muito maior do que temos no mundo tradicional”, Acrescentou Larissa Goerner.
Produção remota encontra espaço também no mercado corporativo
Fábio Eitelberg, CEO da 2LIVE, destacou os benefícios da produção remota não apenas para o mercado de televisão e esportes, mas, também, para os mercados corporativos e para a publicidade. “Os benefícios são inúmeros, a começar pela economia de recursos e a padronização de qualidade. Qualquer produção remota nos permite trabalhar com uma redução significativa de equipamentos e pessoal, em campo, ao mesmo tempo proporcionando um ganho de qualidade aos profissionais que recebem esses sinais, no master, na control room, propiciando melhorias na qualidade de cortes, de grafismos e de produção com participantes remotos.”
A produção remota é uma realidade para a 2LIVE desde 2017, quando a companhia deu início à produção de eventos streaming como a Copa do Nordeste, operando com três câmeras no estádio e os cortes sendos feitos em São Paulo, além da inserção de grafismos, narração off-tube e streaming para a plataforma onde eram distribuídos os jogos.
“A gente começou com essa experiência no mundo dos esportes e, depois, a partir do mesmo workflow, ampliou para as ações do mundo corporativo, em eventos de comunicação interna de empresas, eventos e convenções de vendas, eventos para varejo ao vivo, live shops. Fizemos muitas ações de publicidade para grandes marcas brasileiras, que tinham uma produção acontecendo em um determinado lugar, interagindo com uma outra produção acontecendo em outro determinado local, e a gente fazendo esse corte remoto na nossa produtora e o streaming final para o espectador poder acompanhar com uma qualidade televisiva”, contou Eitelberg.
Companhias tradicionais de hardware também se voltam ao software-based
Jorge Dighero, Senior Solutions Architect da Grass Valley, destacou o fato de companhias tradicionais pelo desenvolvimento de equipamentos de hardware estarem vivendo um momento de grande transição, buscando inovações e soluções baseadas em software, remotas e distribuídas. “Sabemos que esse é o novo mundo”, pontuou. A arquitetura da Grass Valey foi desenvolvida, segundo Dighero, desde o início, para ser cloud-based de ponta a ponta, oferecendo a possibilidade de escalar.
Daniel McDonald, Senior Solutions Manager da Sony, destacou que a multinacional está focada no desenvolvimento de soluções compartilhadas em nuvem que reduzam a necessidade de infraestrutura dedicada, aliando produção remota à produção distribuída. “É uma maneira muito mais eficiente de compartilhar recursos e não precisar de hardware dedicado, ou seja, um switcher tradicional, que sabemos que é caro. A visão total é ter essas soluções implementadas na nuvem, o que nos permite trabalhar de uma forma muito elástica, dinâmica e aproveitando todos os recursos oferecidos pela virtualização.”
O executivo da Sony apresentou a solução completa da empresa para produção baseada em nuvem e lembrou que o workflow possibilita trabalhar com diversos micro-serviços, na nuvem, oferecendo integração com fornecedores e plataformas de terceiros, como, por exemplo, o Hawk-Eye, tecnologia de detecção de bola e repetição de vídeo Synchronised Multi-Angle Replay Technology (SMART), adquirida pela Sony em 2011 e que vem sendo adotada pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) em seus sistemas de VAR no Brasil. O executivo lembrou ainda do projeto desenvolvido para a Discovery, que detinha os direitos de transmissão da Olimpíada, onde foram criados dois hubs, um na Inglaterra e outro na Holanda, sincronizados, que estavam interconectados a onze países.

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