O futuro do broadcasting
Jurandir Pitsch, VP de Vendas para América Latina e Caribe da SES, escreve com exclusividade para o Top C-Level

Por Jurandir Pitsch, VP de Vendas para América Latina e Caribe da SES

Editado por Gabriel Cortez, Jornalista do conselho editorial do Top C-Level

Fazer projeções sobre o futuro é sempre uma tarefa ingrata e, quase sempre, as avaliações erram ou no conteúdo ou nas datas. Algumas tendências, no entanto, vão se consolidando. E é sobre elas que iremos nos concentrar.

Muitos setores passam por mudanças, mas o setor de entretenimento, radiodifusão e mídia, de uma forma geral, tem passado por transformações praticamente em todos os seus segmentos: produção, geração e distribuição. Muitas delas são mudanças de paradigmas, disruptivas. Podem provocar a “morte” de algumas empresas, ao passo que tantas novas companhias irão surgir e outras irão se reinventar. Modelos comerciais estão sendo superados e substituídos e outros, novos, estão sendo testados. Alguns serão viáveis, mas outros terão vida curta. 

Eu sou de uma época em que a televisão era analógica. Primeiro branco e preto. Depois, em cores. As famílias tinham uma televisão na sala e se reuniam para assistir. Muitos até iam à casa dos vizinhos para ter acesso. Eram poucos canais disponíveis, normalmente 3 ou 4,  e a qualidade da imagem seria considerada simplesmente inaceitável hoje em dia. 

O conteúdo era limitado. As emissoras paravam durante a madrugada, colocando uma tela  de teste no ar. Trocava-se a TV da sala apenas quando a antiga quebrava e era um investimento significativo para as famílias. Não havia mídias sociais, não tínhamos o Google para nos informar e não havia telefone móvel. Os fixos eram difíceis de conseguir e caros. E não estamos aqui falando de 100 anos atrás. 

O Google tem 23 e o primeiro smartphone da Apple foi lançado em 2007. Quanta coisa mudou! O analógico tornou-se digital, os poucos canais viraram dezenas (ou até centenas para quem tem TV a cabo). Os lares passaram a ter várias telas e os tamanhos destas aumentaram. 

Veio a Internet. No início, o impacto na televisão era pequeno, porque as casas não tinham acesso à banda larga e os sistemas de compressão não permitiam mandar vídeo com as taxas disponíveis. Aos poucos, o ambiente foi se tornando mais e mais amigável ao vídeo. Primeiro com a explosão de conteúdos individuais, caseiros, que começaram a ser carregados em novos sites, como o YouTube. Protocolos foram desenvolvidos, permitindo a distribuição do vídeo, com alta qualidade, pelas redes IP, criando todo um novo mercado que está só começando. 

IP, múltiplas telas e SaaS

E a tendência continua. O futuro é, sem dúvida, IP. No início, muitos tinham medo, porque a transmissão de vídeo pela Internet era ligada à pirataria, com pouco controle sobre a proteção dos direitos autorais. O mesmo se passava com o uso pelos bancos, que tinham receio da proteção das transações. Mas, a tecnologia evoluiu e este temor inicial se dissipou. Hoje, o produtor ou radiodifusor que não abraçar o IP está fadado à irrelevância. A evolução é cruel. Ou você se adapta ou “morre”. O ônus está no broadcaster. O usuário é cada vez mais exigente e livre para escolher. 

O futuro é, também, multitelas. O conteúdo não pode mais ficar restrito à sala. As novas gerações querem consumi-lo em qualquer lugar, inclusive quando estão se movendo (viajando em ônibus, trens, aviões, etc). Desta forma, temos duas tendências que parecem contraditórias. Por um lado, vemos um aumento da procura por aparelhos de televisão maiores (no Brasil, em 2021, a maior procura foi por aparelhos entre 56 e 59 polegadas) com definição em UHD. Por outro lado, a audiência na faixa de 18 a 34 anos reduziu significativamente o consumo da TV tradicional, preferindo as telas individuais e móveis. Quem distribui tem que estar preparado para todos os cenários, transmitindo em múltiplos formatos e perfis. 

A competição é feroz pela atenção do usuário ou cliente final. É preciso entender as suas necessidades, seus hábitos de consumo e suas preferências. Ferramentas analíticas em tempo real serão usadas cada vez mais para direcionar o conteúdo, mas, também, para permitir uma maior efetividade da publicidade com propaganda dirigida (por grupos, geografias ou até individualmente).   

O SaaS (Software as a service) em nuvem estará presentes cada vez mais nas cadeias de produção e distribuição dos conteúdos. Nuvem e inteligência artificial começam a fazer parte do vocabulário dos broadcasters e isto só irá se acentuar. 

Na produção, as mudanças são igualmente dramáticas. Com o sucesso de plataformas OTT, a pressão por conteúdo aumentou dramaticamente, forçando os custos para cima. Pela primeira vez, artistas, diretores, roteiristas estão migrando para grandes plataformas on-line, forçando uma competição inédita para os radiodifusores, que antes apenas competiam entre si pelos talentos. Da mesma forma, eventos esportivos importantes estão sendo disputados por diversas plataformas on-line. 

Direct To Consumer, oferta de conteúdos em excesso e baixa monetização

Com o aumento do poder das plataformas independentes, como Netflix e Amazon Prime, os grandes produtores começaram a reagir. Primeiro com o ganho em escala, através de fusões e aquisições, como a Disney, que comprou os catálogos da Marvel, Lucasfilm e a própria Fox, a Warner com a HBO e com a Discovery e a própria Amazon com a compra da MGM. O passo seguinte destas gigantes foi desenvolver aplicativos para ir direto ao consumidor, usando a rede IP pública, gerando um conflito com as cadeias de distribuição tradicionais que utilizam redes privativas (cabo, fibra ou satélite). O excesso de oferta está fragmentando o setor e, neste momento, poucos estão conseguindo monetizar de forma efetiva. Mas estes gigantes irão continuar a colocar muito dinheiro tentando. 

Em resumo, podemos afirmar que estamos entrando em uma terceira era da televisão. Haverá ganhadores e perdedores neste processo. Ganham os produtores de conteúdo, que agora têm muito mais plataformas para distribuir e ainda recebem investimentos altos dos novos players (Netflix e Amazon colocam bilhões em produtores independentes). Ganham os donos dos conteúdos, que já possuem catálogos consagrados, franquias, etc, e conseguem monetizar isto nos novos meios. Ganham também todos os envolvidos na  cadeia de distribuição IP (plataformas digitais, CDN, provedores de tecnologia, etc). O vídeo é o grande driver para a expansão da Internet. De acordo com a Cisco, em 2022, a transmissão de vídeo na rede irá representar 82% de todo o tráfego. Perdem todos aqueles que não evoluírem, permanecendo em um modelo de distribuição de TV puramente tradicional. 

Jurandir Pitsch, VP de Vendas para América Latina e Caribe da SES

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