Por Tainara Rebelo, jornalista do conselho editorial do Top C-Level
Se você vive num mundo com acesso à internet, você já deve ter ouvido falar sobre o Blockchain. A tecnologia não é nova, mas vem ganhando espaço devido à intensa troca de informações online a conseqüente preocupação com a segurança destes dados na rede. Cada vez mais especialistas debatem as melhores formas de proteger informações dos usuários na rede, mas, ao mesmo tempo, hackers vêm descobrindo janelas nas interfaces dos sistemas utilizados na web.
Para entender como o Blockchain entra nessa conversa e de que maneira ele vem sendo e pode ser usado para proteger dados na rede, a Top C – Level conversou com o especialista em Blockchain, Jeff Prestes. Confira a seguir este bate-papo.
Top C-Level: O que é o Blockchain, como ele é usado e qual a sua importância?
Jeff Prestes: O Blockchain, na verdade, é um conceito. Ele é usado em qualquer cadeia de negócios em q você precisa compartilhar informações de maneira segura com parceiros. Eles não precisam ser alguém q você conheça, ou tenha confiança. Com a ferramenta,você pode fazer transações e negócios de maneira transparente, efetiva e rápida e q a informação vai ser registrada da forma que você inseriu e não vai ser fraudada.
Top C-Level: O Blockchain tem a ver com NFT? Como seria essa relação, ou a diferença entre eles?
Jeff Prestes: A NFT é a ponta desse iceberg. Os tokens não fungíveis são o Smart Contract que funciona em um Blockchain. Eles são construídos pela plataforma Etherium, e esse Etherium segue os conceitos fundamentais de um Blockchain implementando esses conceitos. É nele que ficam o Smart Contract e o NFT. O Smart Contract é o responsável por armazenar e gera IDs únicos que se associam a uma URL na qual estão os metadados dessa obra, ou item não fungível, que esse ID único representa.
Top C-Level: Neste ano, o site das Lojas Americanas foi alvo de um grande ataque hacker que impactou o mercado e colocou a segurança das redes em debate. Ter o Blockchain como protocolo de segurança poderia ter evitado esse incidente?
Jeff Prestes: Dependendo do que fosse, sim. O Blockchain poderia ser de grande ajuda, mas não para evitar o hackeamento, e sim contribuir para que o restauro das informações roubadas fosse mais rápido. Os fraudadores ainda teriam acesso para derrubar o servidor, mas, como uma das premissas do Blockchain é que ele seja descentralizado, ou seja, ter vários servidores de outras empresas para armazenar esses dados em segurança. Seria então questão de só ligar novas maquinas e sincronizar com o Blockchain, voltaria muito mais rápido.
Com certeza ele é uma alternativa de e-commerce, mas, por prezar pela descentralização, o Blockchain, precisa de um novo paradigma: o de pensar em fazer negócios de maneira colaborativa, não essa competição antiga de centralização de dados. Na verdade, isso só prejudica as empresas quando elas têm esses ataques hackers, pois elas ficam mais vulneráveis e não têm para onde recorrer e recuperar essas informações.
Top C-Level: Poderia citar exemplos atuais do mercado com uso do Blockchain?
Jeff Prestes: Você consegue ver muito de Blockchain na indústria financeira e de propriedade intelectual. Na indústria do entretenimento ainda não temos muitas.
Top C-Level: Além do documentário “Banco ou Bitcoin”, pode citar outros exemplos de mídia para quem quer se aprofundar no tema? (livros, documentários, filmes)
O melhor nessa área para quem está começando e quer se aprofundar é o sumário executivo do TCU (Tribunal de Contas da União), um material incrível que está disponível gratuitamente no site deles (https://portal.tcu.gov.br/levantamento-da-tecnologia-blockchain.htm). Ele explica e conceitua – de maneira muito clara para leigos – os conceitos e usos do Blockchain e Smart Contracts. Aí, para quem quiser se aprofundar no assunto, a partir de lá tem bibliografias que você pode pesquisar. Tem ainda o site do etherium.org , com explicação de conceitos em português, de maneira clara e simples.
Top C-Level: O que mudou desde a popularização da ferramenta até hoje? E quando isso aconteceu?
Jeff Prestes: Depende um pouco como a gente trata da popularização. A primeira popularização dele foi o Bitcoin e o primeiro salto de preços deles, chegando a bater 20 mil dólares. Depois, o que mudou foi, quando a comunidade percebeu que o Etherium e os Smart Contracts podiam gerar uma quantidade de tipos de negócios além do Bitcoins – que só movimenta valores de um lado pro outro –o mercado começou a entender que pode criar Tokens, isso foi um salto. Depois veio ainda a criação das Stablecoins – Tokens q estão atrelados ao valor do dólar com a premissa de controlar a volatilidade da moeda.
Já o NTF não é algo novo, já existiam plataformas que faziam isso desde 2018, quando o conceito foi criado. Mas foi através do Bored Ape Yatch Club (uma coleção com as NTFs mais valiosas e importantes do mercado, que se tornaram referência no setor), que caiu na moda. Não é novo, mas, talvez por conta da pandemia, com as galerias de artes fechadas, foi que artistas e o mercado da arte podem ter buscado novas alternativas, e pode ser que isso tenha contribuído para a popularidade delas. Mas é só uma hipótese.
Top C-Level: O Blockchain vai revolucionar o jeito como você vê TV? Ou como consome entretenimento?
Jeff Prestes: Não acredito que vá revolucionar, ou mudar. É como falar que o Uber revolucionou o jeito que nos transportamos, Só que você ainda usa carro, combustível, e ainda tem alguém dirigindo. Pode ser que o Blockchain mude a centralização do acesso ao conteúdo. Ou seja, um produtor não vai mais precisar pedir pra uma plataforma de streaming postar o conteúdo para que eles monetizem com os clientes. O próprio produtor pode fazer um upload numa plataforma, e o usuário paga diretamente para esse produtor para consumir essa obra artística, seja musica ou audiovisual. Já houve algumas tentativas da indústria da música em proteger o arquivo e pagar ao artista para reproduzir essa musica, mas essas ideias não prosperaram. O Blockchain ainda pode ser que tenha utilidade do entretenimento, mas ainda tem alguns desafios da própria indústria do entretenimento.
Agora, as TVs estão mais inteligentes, acredito que nada impeça que tenham carteiras de Blockchain nas TVs, nas quais você paga um valor baixo para consumir aquele produto, e arte desse dinheiro vá direto para o produtor e para a plataforma, em split.
Seria como o que acontece no cinema, aonde parte da bilheteria vai para o produtor, ator etc, isso pode ser que venha a acontecer com maior freqüência agora, e com menor custo. Nesse sentido pode ser uma evolução sim.
Top C-Level: E isso muda a maneira de consumir os produtos,quaisquer que sejam eles?
Jeff Prestes: A descentralização muda muita coisa porque você tem que mudar o paradigma. No mundo do Blockchain, tudo é feito com plataformas descentralizadas, não é como uma Netflix, que é dona do cadastro de clientes. Na descentralização as pessoas ficam mais empoderadas a partir do momento que ela pode escolher onde consumir o produto oferecido por terceiros. O artista também não fica preso a somente uma distribuidora.
Negócios descentralizados podem mudar muita coisa, já estamos vendo isso nas finanças descentralizadas. Um pool de investidores coloca um determinado Token com valor no Smart Content e pode oferecer empréstimos; e pessoas que nem se conhecem podem tomar empréstimos com determinada segurança e juros distribuído aos investidores. Você passa a não precisar mais de uma pessoa para imputar e cuidar do problema.
No mercado de entretenimento, vamos ver como a tecnologia vai surgir. O importante é ter em mente que se trata de época de colaboração, ao invés de competição. Isso muda tudo na hora de arquitetar o seu negócio.
Top C-Level: Qual o estado da arte da tecnologia e o que está sendo previsto para ela?
Jeff Prestes: Eu acredito que hoje o caminho da evolução da tecnologia do Blockchain é o Eterium (versão 2.0 pra pessoas q chamam de charging) com 64 redes de sub Blockchain que conversam entre si e, ao mesmo tempo, tem um custo menor. Esse vai ser o estado da arte, vai evoluir muito permitir mais operações
Mesmo com os 64, acredito que vai ter outras redes de segunda camada, redes especializadas compatíveis com Etherium, mas que só gravam as informações necessárias para garantir a segurança da informação. Por exemplo, no exemplo que eu dei da indústria musical e direitos autorais – onde as pessoas pagam uma taxa para acessar a musica e parte do valor para cada participante da construção da obra fonográfica – os dados pagadores ficariam registrados no Etherium, e fica guardado somente para esse uso. É uma maneira que você comercializa, mantém a segurança, e tem economia, pois, se surgirem problemas, os dados estarão no Etherium e isso vai ser mantido lá em vários servidores.
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